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A criação da Faculdade de Medicina em Viseu

Setembro 10, 2024 . 10:31
Viseu volta a ser esquecida na criação de novos cursos de Medicina, com a recente decisão de Luís Montenegro a beneficiar Évora e Vila Real. Esta situação relembra uma injustiça histórica, iniciada em 1998, quando a cidade viu a sua candidatura a uma faculdade preterida, uma ferida que ainda não cicatrizou na região.

Na sua intervenção durante a rentrée política do PSD, na Festa do Pontal, Luís Montenegro anunciou a criação de dois novos cursos de Medicina, na Universidade de Évora e na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real. Este anúncio gerou uma imediata reação dos Vereadores do PS, que, num claro exemplo de oportunismo político, acusaram a Câmara Municipal de Viseu de não fazer esforços para trazer uma Faculdade de Medicina para a cidade.

Esqueceram-se, porém, de que o PS saiu do governo há pouco mais de quatro meses, após ter governado o país durante 22 dos últimos 30 anos. Ignoram também o estado caótico em que deixaram o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e os motivos históricos que explicam por que Viseu ainda não possui uma Universidade Pública e uma Faculdade de Medicina. Nos últimos oito anos, o Governo do PS falhou na concretização de projetos estruturantes essenciais para o futuro do concelho e da região, como a requalificação do IP3, a construção de um Centro de Ambulatório e Radioterapia, a criação de um Centro de Psiquiatria e Saúde Mental, a nova Barragem de Fagilde e a ligação ferroviária Aveiro-Viseu-Salamanca, entre outros.

Em 1998, António Guterres decidiu criar duas Faculdades de Medicina em Portugal. À data, Viseu mobilizou-se para apresentar uma candidatura, através da Assembleia Municipal e da Câmara, em colaboração com a comunidade civil e académica. Contudo, as influências de José Sócrates e de outros governantes em favor da Covilhã fizeram com que a candidatura de Viseu fosse preterida. Correia de Campos, coordenador do estudo de Viseu, esclarece no seu livro “Memória I - de Viseu até ao II Governo de Guterres” que “o Ministro do Ambiente, José Sócrates, ainda me telefonou a tentar explicar o inexplicável”, e classifica a decisão do Conselho de Ministros de localizar um dos novos institutos de ciências da saúde na Beira Interior, em vez de Viseu, como “surpreendentemente irracional, contrária à modernização do ensino médico, politicamente intransparente e objetivamente injusta” (p. 647).

Em maio de 2004, Durão Barroso aprovou a criação da Universidade de Viseu, resultado de um projeto liderado por Veiga Simão, que previa parcerias com a Universidade de Erlangen-Nuernberg (Alemanha) e com a Siemens Medical Solution. Contudo, em 2005, o governo de José Sócrates revogou essas decisões e congelou todos os processos de criação de novos estabelecimentos de ensino superior.

Ainda em 2005, José Sócrates não apoiou a proposta da direção do Instituto Piaget para a criação de uma Faculdade de Medicina em Viseu, apesar de o instituto já ter demonstrado investimento substancial tanto em infraestrutura física quanto na estrutura curricular do futuro curso de Medicina.

Por último, em 2021, ouvimos João Azevedo prometer, na presença de António Costa, que Viseu iria ter uma “Escola Superior de Tecnologia na Saúde”. Entretanto, esse processo não teve nenhum desenvolvimento até abril de 2024, quando António Costa deixou de governar.

É certo que, o atual Primeiro-Ministro poderia ter aproveitado a oportunidade de criação de novas Faculdades de Medicina para corrigir a injustiça histórica, da criação da Universidade Pública e de uma Faculdade de Medicina em Viseu, que persiste devido à inação dos diversos Governos ao longo das últimas três décadas. Isto, apesar de existir uma notável unanimidade política a nível local e nacional, e diversos estudos que justificam a pretensão de Viseu.

Como o atual governo tem vários membros que conhecem bem as nossas aspirações, para a valorização e reforço do ensino superior em Viseu, ficamos a aguardar por decisões para a criação das Universidades Politécnicas, para a valorização da Escola Superior de Saúde, para o reforço da oferta formativa na Universidade Católica e no Instituto Piaget, para a criação de Centros de Investigação e por uma oportunidade para concretizar a Universidade Pública.

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