Refood ajuda os mais desfavorecidos a terem um Natal um “bocadinho melhor”
Num mundo cada vez mais umbiguista e em que se atribui o epíteto de “herói” a todo o momento de forma leviana, existem ainda pessoas que abdicam do seu tempo e entregam a sua parca disponibilidade, entre a vida familiar e profissional, para ajudar quem mais precisa efetivamente de ser ajudado.
Em matéria do combate à fome e ao desperdício alimentar, há realmente heróis abnegados e solidários que saem do conforto das suas casas para ir ao encontro dos mais desfavorecidos, aqueles que, às portas do Natal, ainda não sabem se vão ter capacidade para colocar comida em cima da mesa.
Foi neste contexto de necessidade que surgiu a Refood Viseu, criada em março de 2021, tendo a sua primeira entrega porta-a-porta sido efetuada no dia 5. É o núcleo n.º 66 da Refood nacional e pelas suas instalações já passaram cerca de 450 voluntários, todos eles imbuídos do espírito de solidariedade e de ajuda aos mais necessitados, combatendo, ao mesmo tempo, o desperdício alimentar, alicerçados no mote “Aproveitar para Alimentar”.
Neste Natal de 2024, o núcleo conta com 215 voluntários, que asseguram aproximadamente 1800 refeições por mês aos 350 beneficiários, entre eles 110 famílias e 120 menores. Em lista de espera, tem atualmente 38 famílias, num total de 75 pessoas.
A Refood Viseu, que já atingiu as 18.100 refeições entregues até ao momento, conta com 53 fontes de alimentos, ou parceiros, entre as quais 17 restaurantes, 14 pastelarias/ padarias, 13 refeitórios e nove supermercados. Além destas, tem também contactos de eventos e festas, tudo com o intuito de combater a fome na comunidade e de pugnar por um mundo mais justo e sustentável. Em termos operativos, o núcleo viseense tem turnos todos os dias da semana, das 17h30 às 22h00, e ao domingo, das 14h30 às 16h30.
Querer ajudar e nem sempre ter como tornar isso possível
Ao Diário de Viseu, Mena Nunes, coordenadora da Refood Viseu, referiu que a quadra natalícia “é sempre complicada, porque nós queremos muito ajudar as famílias mas nem sempre temos aquilo que queremos para lhes poder dar um Natal um bocadinho melhor”.
A responsável explicou que o núcleo está constantemente a tentar fazer novos contactos para potenciais recolhas de alimentos, assim como tem sempre aberta as suas portas para receber mais voluntários.
“Temos 215 neste momento, mas no ativo não é tanta gente, há muita gente que está inscrita mas acaba por não ter disponibilidade de tempo para fazer, por exemplo, um turno, acaba por vir quando pode e às vezes não é fácil fazermos tudo por não termos pessoas suficientes. Por exemplo, hoje (12 de dezembro) até está bastante gente aqui no turno, mas na semana passada estávamos apenas três pessoas. As pessoas têm a vida delas e acabam por muitas das vezes não terem tempo para disponibilizar a esta causa, porque por vezes não conseguem conciliar com a sua vida profissional e familiar”, lamentou.
O volume de entregas de alimentos tem aumentado e tem sido possível fazer os cabazes para entregar, mas, segundo Mena Nunes, houve alturas em que não havia comida suficiente para fazer um turno que fosse.
“Neste momento, temos os processos mais estabilizados, até porque vamos aprendendo com os erros, e só introduzimos famílias quando percebemos que temos comida suficiente para colocar mais pessoas na rede dos beneficiários. Neste momento, temos cerca de 20 famílias em listas de espera e quando falta um beneficiário, por algum motivo, nós ligamos para essa lista de suplentes e vêm cá buscar o cabaz, portanto, acabamos por ajudar um bocadinho, não é diariamente nem semanalmente, mas sempre é uma ajuda que vai entrando nas famílias”, enfatizou.
Quarto Natal da Refood Viseu
Este ano, segundo Mena Nunes, não haverá cabazes de Natal, tendo o núcleo optado por dividir tudo aquilo que tem recebido pelos beneficiários.
“Neste momento, não temos muita coisa para os fazer. Temos duas pessoas que todos os anos nos dão à volta de 15 a 20 cabazes e o que nós vamos fazer é dividir esses cabazes para tentar dar a toda a gente. Mas não vamos fazer um cabaz específico de Natal, vamos dividir e vamos reforçar aqueles que nós já fazemos diariamente. Estamos a apoiar 108 famílias, porque beneficiários são cerca de 330. A contabilidade é esta atualmente, mas nós só damos os cabazes aos nossos beneficiários”, adiantou a coordenadora.
A Refood está dependente dos produtos que chegam das fontes de alimentos, mas também recebe donativos, cabazes e produtos alimentares de particulares, empresas e instituições.
“Um cabaz diário nosso costuma ter a sopa, uma refeição, algo que varia de dia para dia, porque se tivermos muito pomos duas refeições, mas nem sempre é possível reforçar, e se tivermos fruta pomos fruta, e coisas que nos vão chegando, como bolachas, leite, sandes, bolos, etc”, revelou.
Questionada sobre as principais necessidades nesta altura do ano, Mena Nunes foi rápida a responder: bacalhau e azeite.
“Houve uma empresa que nos perguntou o que precisávamos mais nesta altura e nós respondemos o bacalhau e o azeite, porque é algo que não nos chega tão facilmente. Temos alguns voluntários que nos trouxeram também garrafões de azeite de 3 litros, que vamos dividir por garrafas de 33cl, para podermos entregar a toda a gente. Arroz e massa vão-nos chegando e conseguindo gerir e ir entregando, agora o bacalhau e o azeite, e outros miminhos, como queijo, doces, compotas, é menos frequente”.
A Refood Viseu estará encerrada nos dias 24 e 25. Começou no dia 16 a dividir os produtos que tem pelos seus beneficiários. “Vamos começar a entregar algumas coisas que vamos tendo nos cabazes, no sentido de ajudar as pessoas que mais necessitam a passar um Natal mais condigno”, concluiu Mena Nunes.