Liderar com o coração e mente: o equilíbrio entre saúde mental e sucesso
A liderança moderna está a mudar, mas para onde? E como podemos assegurar que essa mudança é sustentável, tanto para os líderes quanto para as pessoas que neles confiam?
Liderar é mais do que dar ordens ou traçar metas. É sobre construir um ambiente onde cada pessoa sinta que é uma peça indispensável de algo maior, onde a sua opinião é valorizada e o seu trabalho reconhecido. A sensação de pertença e propósito é um alicerce essencial para a saúde mental, tanto dos líderes quanto das equipas.
Estudos comprovam que ambientes de trabalho saudáveis, onde os colaboradores se sentem valorizados, reduzem drasticamente os índices de stress e aumentam a produtividade. Por isso, é urgente que os líderes entendam que têm um papel ativo no estado emocional das pessoas que lideram. É crucial reconhecerem a sua responsabilidade como agentes de mudança emocional. A saúde mental não é um luxo, e sim uma necessidade intrínseca para a prosperidade organizacional.
A minha experiência como empresária, autarca, dirigente associativa e mãe ensinou-me que liderar é, muitas vezes, encontrar as estratégias certas para nos equilibrarmos na complexidade das decisões, enquanto influenciamos positivamente os que caminham ao nosso lado. A liderança não é uma jornada solitária.
É por isso que sempre procurei redes de apoio e inspiração. Fui cofundadora da Rede Mulher Líder, uma comunidade de mulheres empresárias de alto desempenho em Portugal, e da MeTime WeLoveMe, uma iniciativa regional para mulheres empreendedoras que partilham desafios e sucessos. Também integro várias redes internacionais, onde a partilha e o peer learning permitem-nos crescer juntas, criando sinergias que vão além do negócio.
Mas para liderar com assertividade, clareza e equilíbrio, precisamos de algo mais: momentos de introspeção. No nosso dia a dia frenético, somos constantemente anestesiados pela ocupação incessante – prazos, reuniões, distrações tecnológicas e televisivas, compromissos sociais... Raramente nos permitimos o silêncio necessário para nos conectarmos connosco próprios. No isolamento intencional e na paciência desses momentos de reflexão, encontramos as respostas às questões mais profundas. Quando criamos espaço para essa serenidade, ganhamos clareza mental e tomamos decisões mais conscientes e alinhadas com os nossos valores.
Luís Portela, numa das suas reflexões diz: “Quando paramos, desligando do mundo, temos sempre à disposição a nossa própria serenidade interior. E, quanto mais desligamos, mais serenamos. E quanto mais serenamos, mais lúcidos ficamos relativizando as peripécias do dia a dia e positivando construtivamente o nosso pensamento”. Estas reuniões com o nosso “eu”, são essenciais para quebrar o ciclo do ruído constante e reencontrar o equilíbrio.
Práticas como o autoconhecimento, a prática de atividade física, a alimentação saudável e a higiene mental através de pausas estratégicas com momentos de silêncio e isolamento, ajudam-nos a regressar a esse estado de calma e foco. Só assim conseguimos cuidar dos outros enquanto cuidamos de nós mesmos.
Termino com uma reflexão: “Que tipo de legado queremos deixar enquanto líderes? Queremos ser lembrados como os que impuseram resultados a qualquer custo ou como os que inspiraram pessoas a serem a melhor versão de si mesmas?”
Liderança não é sobre ter seguidores; é sobre impactar, inspirar e consequentemente, criar outros líderes. É sobre fomentar uma cultura de bem-estar, propósito e união. E essa transformação começa connosco, no modo como escolhemos liderar e cuidar de quem caminha ao nosso lado.
As organizações que entendem que a saúde mental é a chave para o sucesso sustentável têm um futuro brilhante à sua frente. Afinal, pessoas felizes constroem organizações prósperos, comunidades resilientes e, no fim, um mundo melhor, um objetivo que todos devemos partilhar como missão.