Última Hora
Pub

Cremação em vez de sepultura: há dúvidas ambientais

A cremação em vez da sepultura aliviou os cemitérios dos grandes centros, segundo responsáveis do setor, mas subsistem dúvidas sobre qual método é mais sustentável.

A propósito da sustentabilidade do setor, em entrevista à agência Lusa o presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), Carlos Almeida, cita um estudo francês sobre a pegada carbónica da sepultura e da cremação para dizer que não há grande diferença, ainda que a cremação esteja “um pouco pior”.

“Não será por aí que podemos diminuir ou aumentar a pegada”, diz, notando no entanto que há mais exigências ambientalistas na cremação, porque “para a sepultura qualquer coisa serve”.

Carlos Almeida e outros profissionais do setor disseram à Lusa que a maior percentagem dos milhares de urnas que vão para a terra todos os anos não cumprem critérios de sustentabilidade dos materiais. Mas disseram que na cremação as normas são mais exigentes.

Joaquim Castro, administrador da fábrica de urnas Joriscastro, em Amarante, faz urnas ecológicas há já duas dezenas de anos e refere à Lusa que essas normas permitem que os fornos crematórios não se deteriorem tão rapidamente.

E acrescenta que o aumento de fornos crematórios é bom, “porque, caso contrário, não havia local para os mortos”.

O presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais do Setor Funerário (APPSF) e diretor-geral da Servilusa, Paulo Carreira, a maior empresa de serviços funerários em Portugal, recorda também o tempo dos “cemitérios cheios”.

Em entrevista à Lusa lembrou a criação de uma comissão técnica que na década passada foi ao Instituto Português da Qualidade queixar-se do problema dos cemitérios cheios, porque não havia a cremação que há hoje, das cidades com cemitérios lotados, encostados a terrenos agrícolas e lençóis freáticos, e tudo sem regulamentação no uso das urnas.

Das quase 119 mil pessoas que morrem anualmente menos de 30 mil são cremadas, havendo neste caso regras quanto ao tipo de urnas, que não podem ter produtos sintéticos. Paulo Carreira lamenta que não seja assim também nas urnas que vão para o solo, e garante que há cada vez mais preocupações ambientais das famílias, e fala das urnas para as cinzas, também ecológicas.

“Antes de 2010 dizia-se que a cremação não fazia parte da tradição portuguesa. Hoje 25% deixou de ser a tradição”, nota, acrescentando que na região de Lisboa a cremação representa 60% e que no Algarve e região do Porto se caminha para o mesmo valor.

Com Portugal a seguir a tendência europeia hoje “os cemitérios não estão “a rebentar”, afirma.

Mas Carlos Almeida é mais cauteloso. Fala de estudos que indicam que três fornos crematórios poluem tanto como uma coincineradora e Lisboa já tem quatro fornos.

Contudo, o responsável adianta que já há uma nova geração de fornos crematórios mais ecológicos com uma pré-combustão dos gases que não vão para a atmosfera.

“O que tem de se dizer é que não há regulamentação de fornos crematórios, a Agência Portuguesa do Ambiente anda distraída. Há algumas diretivas comunitárias mas acabam por ser letra morta”, diz na entrevista à Lusa, alertando que não se fiscaliza o local de construção, nem a poluição, e que é tudo “ao sabor dos municípios”.

No Algarve, com dois, caso se construa um terceiro justifica-se? Às dúvidas Carlos Almeida acrescenta outra, com alguma ironia. Ainda se compram terrenos perpétuos nos cemitérios. E perante a pergunta que ele mesmo lança sobre se faz sentido responde: “É romântico”.

Março 23, 2025 . 11:23

Partilhe este artigo:

Junte-se à conversa
0

Espere! Antes de ir, junte-se à nossa newsletter.

Comentários

Seguir
Receba notificações sobre
0 Comentários
Feedbacks Embutidos
Ver todos os comentários
Fundador: Adriano Lucas (1883-1950)
Diretor "In Memoriam": Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: Adriano Callé Lucas
94 anos de história
bubblecrossmenuarrow-right