
Potencialidades de “criar valor no interior” discutidas em Tondela
O Caramulo Experience Center foi o palco escolhido para receber uma conferência dedicada à valorização do interior, onde se discutiram as oportunidades e os desafios que as regiões de baixa densidade populacional enfrentam. O evento, organizado pelo Museu do Caramulo em parceria com a AIRV - Associação Empresarial da Região de Viseu, teve como tema "Criar valor no Interior" e contou com a presença de autarcas e empresários locais, entre outros.
A abertura da sessão ficou a cargo de Salvador Patrício Gouveia, presidente do Museu do Caramulo, que destacou as vantagens da região, relembrando o ano histórico que o território viveu, registando, em 2024, “o melhor ano de sempre, com mais de 100 mil visitantes”. “As pessoas estão cada vez mais interessadas em sair das grandes cidades e perceber o valor de viver em territórios de menor densidade populacional", afirmou, convidando os privados e a autarquia a “andarem de mãos dadas para valorizar o interior, em especial a região do Caramulo”.
A presidente da Câmara Municipal de Tondela, Carla Antunes Borges, reforçou a ideia, sublinhando que "estar no interior não é uma fatalidade, mas sim uma oportunidade". Segundo a autarca, a colaboração entre o setor público e privado é essencial para criar condições que favoreçam o crescimento empresarial e social, e que cabe “aos organismos públicos dar espaço à iniciativa privada, permitindo que esta se fortaleça e contribua para o desenvolvimento da região”. A autarca referiu que “têm de ser criadas políticas públicas que proporcionem condições para as empresas se radicarem e desenvolverem a sua atividade nesta faixa do país”.
À conversa e ao debate juntaram-se o administrador da Visabeira, Fernando Daniel Nunes, o CEO e cofundador da Feedzai, Nuno Sebastião, e o CEO do grupo BEL, Marco Galinha.
Sobre a razão de investir nas regiões do interior de Portugal, foram vários os motivos anunciados pelos membros do painel. Nuno Sebastião referiu que, “por teimosia ou não, nunca conseguiram provar que a minha empresa (radicada em Coimbra) teria de ir para Londres ou para os Estados Unidos porque não iria florescer no interior do nosso país”, enquanto Marco Galinha se afirmou como apologista de uma ideia central: “Não nos podemos esquecer que o nosso interior está mais perto da Europa”.
Em relação à região do Caramulo, cuja marca “Águas do Caramulo” passou a integrar, em 2023, o conjunto de empresas do Grupo BEL, o CEO Marco Galinha assinalou uma diferença notável sobre o território, afirmando que este “possui algo único, que não consigo encontrar em outro lado, que é a humildade das pessoas, o vontade de fazer, a disponibilidade”.
Por seu lado, Fernando Daniel Nunes lembrou que o grupo Visabeira tem as suas raízes em Viseu e que, “apesar das estratégias de expansão global e internacional que uma empresa como a nossa possui, já tivemos de ter também a capacidade de crescer daqui, das nossas raízes”, salientando os apoios que a empresa já desenvolveu na região, com “investimentos na ordem dos 50 milhões de euros no setor da hotelaria e a criação de mais de 80 postos de trabalho”.
O moderador do debate, João Cotta, presidente da AIRV, também interviu acerca do tema, admitindo que “a região do Caramulo é um lugar fantástico e de história”, e que a expressão de interior está “nas nossas cabeças”.
A encerrar a conferência, Pedro Reis, ministro da economia, enfatizou a ideia de que “quem sabe o futuro da economia são as empresas, temos de nos focar é nos investidores e atraí-los”, sublinhando que “se fizermos isto, conseguimos tudo”. Durante o seu discurso, o ministro destacou o papel do Estado como facilitador do crescimento económico e “que este não pode ser um travão mas sim um intermediário que quer ajudar a criar as condições necessárias para que as empresas prosperem”. Além do fator público, o governante elogiou ainda o papel da iniciativa privada, especialmente das empresas familiares, citando, como exemplo, a família Lacerda, responsável pelo Caramulo Experience Center.
Foi com boa disposição, mas com um olhar atento para o futuro, que se discutiram as potencialidades de “Criar Valor no Interior”, encontrando, “através de uma aposta forte na educação e no trabalho conjunto entre empresas e autarquias”, a solução para o crescimento económico das regiões do interior de Portugal.