
“Passou a altura de sermos ingratos com os empresários deste território que são quem cria emprego e anima a economia”
Qual é a força da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões na BTL?
A CIM Viseu Dão Lafões tem uma característica própria que eu acho peculiar e muito importante para a promoção deste território. Nós temos de facto uma complementariedade no território que nos dá para mostrar uma variedade enorme de motivos de atração. Eu nem conheço nenhum território que possa dizer que tem ao mesmo tempo o chamado desporto da natureza, as águas termais espalhadas por quase todos os territórios da CIM, uma cidade de média dimensão, mas igualmente um conjunto de municípios com os seus atrativos próprios, tem o enoturismo, tem uma cultura e um património muito ricos, uma gastronomia única. Não é em vão que nós fomos considerados, no ano passado, destino gastronómico nacional.
Temos, portanto, uma pleia de atrativos que podem à vontade prender aqui o turista, um habitual dia ou dia e meio ou mesmo mais podendo descobrir esta região de forma tranquila. Possivelmente outras CIM’s terão algumas destas nossas características e outras próprias, mas estou em crer que nenhuma delas junta tanta diversidade de uma forma não harmoniosa e atrativa como a nossa.
São esses atributos que fazem com que a CIM Viseu Dão Lafões seja uma das que mais cresceu em número de hóspedes?
Eu ia exatamente referir isso. Eu acho que foi por muitos motivos, aliás, ainda na passada semana eu tive o oportunidade de agradecer à rede Cultural de Viseu, no encontro que fizemos aqui para assinar protocolos, e foram 48 protocolos assinados, a contribuição deles pois, seguramente, também está neles o aumento das dormidas no território. Nós temos três vezes mais hóspedes, digamos, em termos percentuais, do que a média nacional, o que é de facto um feito. E o mesmo se pode dizer para o todo deste território, embora eu pense que mesmo assim, também há assimetrias na própria região. Daí que, em termos turísticos, se justifique a presença de todo este território na BTL e é exatamente, por isso que vamos ter, na BTL, cerca de 20 operadores que representam a realidade desta região.
"Quem demanda o aeroporto do Porto, a acessibilidade é relativamente simples, tal como o é para quem vem de Espanha. Por isso eu diria, que a distância neste momento e a acessibilidade que é de muito boa qualidade, nos fazem aproximar dos mercados turísticos”
Quando fala em assimetrias no território, refere-se às realidades diferentes de cada um dos municípios que compõem a CIM?
Claro que ainda há, há assimetrias reais entre os concelhos, digamos, até do ponto de vista populacional. Uns menos densos, outros já com alguma densidade, como é o caso do Município de Viseu. Mas de uma forma global, eu costumo até dizer que até tivémos sorte porque a agregação dos 14 municípios nem sequer mudou a configuração do coração. Nós estamos mesmo sintonizados e tenho que reconhecer o trabalho da CIM, nomeadamente o trabalho do secretário executivo e da sua equipa, que têm com os municípios feito um trabalho ótimo de harmonização de tudo aquilo que são os nossos objetivos fundamentais.
Um trabalho fundamentalmente que é feito em rede?
Um trabalho em rede, um trabalho em grupo e, portanto, com a dificuldade que isso, acarreta. Nós sabemos por experiência própria, também na CIM, mas com a nossa própria postura com as freguesias. Portanto, estes 14 municípios têm andado de uma forma mais ou menos a par na execução daquilo que é a sua base alimentar fundamental, os fundos comunitários. Mas temos executado bem, temos colocado à disposição das nossas populações aquilo que nos está disponível. Eu dou o exemplo do IR e VIR que é, de facto, um exemplo paradigmático, mas também dou outro exemplo que também fala por si. Não há muito tempo, eu fui servir de anfitrião ao Comissário Europeu das Florestas, que veio aqui ver na região como é que se faz o contra-fogo. E era um comissário, oriundo dos países nórdicos, que seguramente tem um perímetro florestal muito mais denso e muito maior do que o nosso. Portanto nós, enquanto território, já somos visto como exemplos em muitas áreas devido exatamente a esse trabalho em rede que vimos desenvolvendo.
Pela primeira vez vão estar, como referiu, vários operadores privados. É um reconhecimento da importância deles no território, muito em especial neste setor tão importante como é o turismo?
É, sem dúvida, o reconhecimento da sua importância para o desenvolvimento e afirmação do nosso território. Eu acho que passou a altura de nós sermos ingratos com os empresários. Nem sempre lhes fazemos um reconhecimento, mas são eles que geram o emprego, são eles que animam a economia e, portanto, num setor como este, que é um setor de ponta, que é um setor que mais tem contribuído para o desenvolvimento do país, é bom que lá estejam os principais operadores. Desta forma confirmam igualmente que estão de mãos dada com as autarquias e, neste momento, com a sua comunidade intermunicipal. Eu acho que é fundamental a sua presença e este trabalho em conjunto.
Na apresentação do programa da CIM, em Nelas, foi referido que esta região de Viseu Dão Lafões cresceu em termos da oferta turística, nomeadamente na oferta hoteleira, mas, em qualidade e com um serviço da excelência. É aí que eles verdadeiramente se enquadram?
Sim, sim. Nós estamos requintados. Eu tive oportunidade de dizer, quando recebemos o prémio gastronómico, do destino gastronómico do ano, que não foi a câmara, nós não confecionamos as refeições, não produzimos vinho. Foram de facto os produtores, os donos dos restaurantes, os trabalhadores dos restaurantes, os hoteleiros que fizeram isto e que fizeram com que isso tivesse acontecido. E, portanto, este é um reconhecimento, digamos, de um trabalho feito no setor privado que deve ter o nosso respaldo, o nosso acompanhamento, mas que é fundamentalmente da sua responsabilidade. Deixe-me dizer-lhe que eu noto isso no concelho de Viseu, por exemplo, até pela quantidade de empresas Gazela que vão sendo distinguidas, pelas PME Excelência, pelas PME Líder, um conjunto de empresas que, até agora, eram apenas quase sempre oriundas do litoral do país.

O que é que espera da presença, este ano, na BTL?
Definitivamente mais ou menos aquilo que tem acontecido nos anos anteriores, que seja um espaço de promoção do que melhor sabemos fazer e temos no território. E desta vez, com uma particularidade , estamos na mesma umbrella e não há divisões, vamos ser tratados e queremos que sejamos vistos como um todo.
E, portanto, o acompanhamento dos operadores turísticos, das empresas da região dá-nos também um conforto maior para, digamos, disponibilizar este espaço à visita das pessoas. Eu tenho a certeza que cada vez mais com as acessibilidades, embora ainda tenhamos uma pequena rutura na acessibilidade que é o caso do IP3, nós estamos cada vez mais na mira dos turistas nacionais e internacionais. Quem demanda o aeroporto do Porto, a acessibilidade é relativamente simples, quem vem de Espanha também é simples, por isso eu diria, que a distância neste momento e a acessibilidade que é de muito boa qualidade, nos fazem aproximar dos mercados turísticos. Espero que a BTL seja mais um momento alto da promoção da nossa região que tem feito esse esforço grande. Têmo-lo feito na FITUR e nos últimos quatro anos na BTL, que é uma mostra espetacular. Eu espero sinceramente que mantenhamos, digamos, esta oferta, porque tem-se refletido, seguramente nos bons números que temos obtido.
Está encontrado um modelo, finalmente, de promoção deste território, sobre a umbrella da CIM?
Este é um bom modelo. Vamos lá ver, comparando, possivelmente haverá outros, ou haverá outros ainda mais tarde que poderão ser melhores e há que não ter problema nenhum em entrar num outro modelo que seja melhor, mas comparativamente, este é excecional,. E deixe-me dar-lhe um exemplo. Nós tínhamos o distrito, que neste momento, se não for para a eleição dos deputados já não representa nenhuma homogeneidade. Depois, Mortágua já pertence a Coimbra, os concelhos do norte pertencem ao Douro. Portanto, nós temos de facto esta nova distribuição espacial, que é muito mais homogénea, mesmo pertencendo a quatro comunidades intermunicipais. Fomos tirar um concelho à Guarda, é um facto, o caso de Aguiar da Beira. Mas acredito que aqui o que pesou muito, não sei se propositadamente, foi o objetivo da homogeneidade, esta região é muito mais homogénea, tal como está.
E o Município de Aguiar da Beira encaixa-se perfeitamente, e naturalmente, no coração de Viseu Dão Lafões.
É verdade e já se encaixava em todos os sentidos muito antes da CIM. Sabe que já de tempos históricos, lá muito mais para trás, Aguiar da Beira fazia toda a sua vida com o Viseu. Por exemplo, faz parte da Região Demarcada do Vinho do Dão com mais de 100 anos de história.
Acabou a ideia de que, realmente, este território do interior do país estava definitivamente afastado do mapa do turismo ou do turismo internacional?
Deixe-me dizer que, às vezes, encontro aí uma ideia perigosa. Eu percebo o significado do interior, nós somos interior, só que também há interiores no litoral. Quando falamos do interior não é apenas de distância que estamos a falar, é a forma como temos sido mostrados, ao ostracismo em termos de orçamentais. Isto é, se não forem os fundos comunitários, que ainda por cima são geridos centralmente, e só depois regionalmente, o que nós tratamos bem, não contamos com mais investimentos de âmbito nacional. Na verdade, não há Orçamento de Estado praticamente que abranja as regiões do interior.
Se me perguntar qual é a última grande dotação do Orçamento de Estado? Eu acho que ela está para chegar, mas até aqui, que eu me lembro, nos últimos tempos não tivemos nada. Desde a construção dos grandes equipamentos, sei lá, da recuperação das escolas, do hospital, do Instituto da Juventude, do tribunal, não houve mais nada.
Portanto, Orçamento de Estado não tem havido e daí, quando eu digo interior, tem a ver com isso, tem a ver com os investimentos que, de uma forma, eu diria quase inacreditável, vão sempre destinados ao litoral.