
Montenegro afirma: "Portugueses não querem novas eleições"
“Eu não tenho dúvida nenhuma de que as portuguesas e os portugueses, em casa, não percebem o que é que está a acontecer, eu não tenho dúvida nenhuma de que não desejam ter eleições antecipadas”, afirmou Luís Montenegro no parlamento, durante o debate da moção de confiança apresentada pelo Governo.
O chefe do executivo disse também não duvidar de que os portugueses “até estão globalmente satisfeitos com o desempenho do Governo” e que “há uma adesão crescente das portuguesas e dos portugueses aos princípios de execução do Programa do Governo e até aos primeiros resultados que já se vão obtendo”.
“É a minha obrigação interpretar o interesse nacional. Eu sei que as portuguesas e os portugueses não desejam ter eleições hoje, mas também sei que não nos perdoarão se nós encaminharmos o país para um ano, ou um ano e três meses, de degradação da vida política, de diminuição da capacidade do Governo executar o seu programa, se nós não nos entendermos naquilo que é a essência do nosso regime político-constitucional que é, há um Governo que foi empossado, há um parlamento que não rejeitou o seu programa e, portanto, há condições para a execução do programa do Governo”, defendeu.
O líder do executivo apelou ao PS que mude o sentido de voto anunciado, assinalando que “basta abster-se” para que a moção de confiança seja viabilizada.
“Eu respondo a tudo aquilo que quiserem que eu responda, mas tem de ser na convicção de que definem o âmbito das perguntas, que definem o objeto e o método para a resposta e o prazo para a resposta. Eu estou disponível para isso, não pode é ser sempre na mesma lógica de que a cada resposta há nova dúvida, em cima da nova resposta há nova dúvida, e não saímos desta espiral levando o país connosco”, afirmou.
O primeiro-ministro justificou a necessidade de apresentar uma moção de confiança à Assembleia da República por “uma questão de verdade, de transparência, de lealdade, por uma questão de assegurar o regular funcionamento das instituições”.
Antes, num pedido de esclarecimento, o presidente da IL também defendeu que “os portugueses não querem eleições”, mas “querem explicações” e responsabilizou tanto o Governo como as bancadas que anunciaram que vão rejeitar a moção de confiança, pela “crise política profunda” e por o país poder disputar novamente legislativas antecipadas, considerando tratar-se de “uma enorme irresponsabilidade”.
“Senhor primeiro-ministro, este era o tempo da responsabilidade política, do sentido de Estado”, defendeu Rui Rocha, que criticou Luís Montenegro porque “entendeu levar o país para eleições para não dar mais explicações” sobre a empresa que fundou.
O secretário-geral do PCP considerou que “não há explicações possíveis que [o primeiro-ministro] possa dar relativas aos casos que o envolvem, nem melhorias na comunicação que consigam justificar aquilo que é injustificável”.
“O senhor primeiro-ministro poderia e deveria ter tomado a atitude certa, demitir-se, mas não o fez, nem o faz, e o que tenta é iludir a incompatibilidade dos seus interesses com a gestão dos interesses do país, levar o país para eleições e tentar sacudir as suas responsabilidades”, sustentou.
Paulo Raimundo acusou Montenegro de vitimização e de querer “a todo custo salvar a sua imagem e salvar a continuidade de uma política ao serviço dos interesses dos grupos económicos e das multinacionais”.
Por seu turno, a deputada única do PAN apelou ao primeiro-ministro que “retire a moção de confiança e tenha a humildade de falar, em particular, com os dois maiores partidos da oposição deste parlamento, para ver qual a solução”.