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Portugal assume comando de força multinacional de reação rápida pela primeira vez
Portugal, através da Brigada Mecanizada, vai assumir pela primeira vez o comando de um Battlegroup da União Europeia (EUBG), uma força multinacional de reação rápida pronta para responder a crises internacionais, momento considerado “histórico” pelo Exército.
“É, de facto, o primeiro, e um reconhecimento internacional, segundo, o reconhecimento nacional também da nossa capacidade, mas mais importante ainda, para o Exército, é recuperar os saberes do escalão brigada”, disse hoje à Lusa o chefe de Estado Maior do Exército (CEME), no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM),em Constância, (Santarém).
O general Mendes Ferrão lembrou que “é isso que a NATO solicita a Portugal, que tenha uma brigada completa, pronta para ser empregue” no quadro daquela aliança.
Tendo feito notar que “há anos” que o Exército tem estado “a projetar unidades escalão batalhão e companhia”, o general apontou à necessidade de “trabalhar o escalão brigada, pronta para ser empregue no quadro daquela aliança, como, aliás, já teve no passado”-
Mendes Ferrão falava no final de uma visita ao exercício Taurus, de aprontamento para assumir o comando de um EUBG, força que será composta por cerca 1.500 militares de vários países.
“Esta é uma força que é aprontada no âmbito da União Europeia (UE) e materializa um compromisso forte de Portugal, das Forças Armadas e do Exército, no reforço do pilar europeu militar de segurança e defesa e está à disposição da UE para o cumprimento das missões de estabilização e operações de resposta à crise, não é uma força para operações de combate”, notou.
A força é conjunta, integrando militares do Exército, da Marinha e da Força Aérea, e também combinada, porque integra contingentes da Itália, Roménia, Espanha e França, servindo o CMSM como centro de treinos e certificação de algumas das componentes dessa força, e que culminará em maio com o exercício Orion, onde será testada a integração total das forças e meios do EUBG.
“Sendo um exercício conjunto e combinado, traz-nos um acréscimo de capacidade de operar com os nossos aliados, de operar com os outros ramos, que é muito importante nos tempos de hoje”, frisou Mendes Ferrão, tendo assegurado que o EUBG não afeta os compromissos assumidos com a NATO.
“Este compromisso [com a segurança europeia] em nada afeta aqueles que são os outros compromissos que o Exército tem com a NATO e a ONU para outras operações, nomeadamente com a força que já temos na Roménia, uma companhia mecanizada e um grupo de operações especiais, e também a força que temos na Eslováquia, que neste momento está com um pelotão, com cerca de 30 militares, e vai crescer já em junho, com cerca de 120 militares”, declarou.
Tal, frisou, “mostra bem o compromisso que Portugal tem, quer com a União Europeia, quer com a NATO, mas sobretudo naquilo que é o interesse português e das Forças Armadas de reforçar a sua capacidade de resposta militar no âmbito destas duas organizações, e, neste caso, reforçando o pilar europeu”.
O exercício Taurus, que envolve 569 militares e 105 viaturas, é focado no comando e controlo, ou seja, no posto de comando do EUBG que Portugal vai assumir em julho, sendo a força comandada pelo Brigadeiro-General Luís Calmeiro, atual comandante da Brigada Mecanizada.
O EUBG terá um efetivo cerca de 1.500 militares, dos quais 1.100 portugueses, integrando ainda militares de Espanha, França, Itália e Roménia.
A 01 de julho de 2025 Portugal assume um nível de prontidão de 30 dias e, de 01 de janeiro de 2026 a 01 de julho de 2026, o nível de prontidão da força será de 05 a 10 dias com vista ao seu emprego em caso de necessidade, tendo o general CEME destacado a importância do CMSM “enquanto polo agregador de capacidades no âmbito do aprontamento de forças, centro de testagem e desenvolvimento de soluções tecnológicas no âmbito da defesa, quer ao nível nacional como Internacional”.
“O primeiro é recursos humanos, e nós felizmente estamos a conseguir inverter o ciclo de diminuição do efetivo. O outro desafio que se põe tem a ver com o reequipamento, quer no âmbito da lei de programação militar, quer agora neste quadro de aumento das despesas com defesa, até aos 2 % do PIB”, apontou.
“O Exército tem muito claro as necessidades que tem e tem algumas capacidades críticas que têm que ser reforçadas no mais curto espaço de tempo, no domínio da proteção com a artilharia antiaérea, no domínio dos fogos, de renovar a sua capacidade de artilharia de campanha, no domínio das comunicações e sistemas de informação, e também no domínio da substituição das viaturas blindadas”, elencou.
Instado a comentar os três anos sobre a invasão da Ucrânia, o CEME disse “lamentar a guerra” (…) um “fenómeno muito doloroso para todos” e afirmou o “apoio incondicional” a Kiev e disse “acompanhar com muita atenção aquilo que se lá passa”.
“Temos aprendido e introduzido muitos ensinamentos que, do ponto de vista técnico e tático, têm sido recolhidos durante este conflito”, concluiu.