Enfermeiros da urgência "no limite" da sua capacidade no Hospital de Vila Franca
Os enfermeiros do Serviço de Urgência do Hospital de Vila Franca de Xira denunciaram que estão “no limite” da sua capacidade física e mental, devido à elevada carga de trabalho, e que vão avaliar novas formas de luta.
Numa nota, a direção regional de Lisboa do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) avançou que os enfermeiros da urgência do Hospital de Vila Franca de Xira estão “no limite da sua capacidade física e mental fruto do elevado ritmo de trabalho”, resultado de “sucessivas alterações de horário”, muitas “no próprio dia”.
Os enfermeiros queixam-se ainda “dos contactos telefónicos nas suas folgas e tempos de descanso e dos horários com mais de 50 horas extraordinárias por mês”.
“A falta de enfermeiros e a realidade estrutural do serviço coloca em risco a segurança de prestação de cuidados de enfermagem quando existem mais de 100 doentes internados no Serviço de Urgência, além da elevada afluência ao serviço, havendo uma média de 16 a 17 doentes por enfermeiro”, lê-se no comunicado.
Segundo o SEP, entre as principais reivindicações destes profissionais de saúde estão a “criação de condições de trabalho que favoreçam a fixação e contratação de enfermeiros, tais como a contagem de todos os anos de serviço para efeitos de progressão” e “a harmonização de dias de férias” entre contratos de trabalho em funções públicas e individuais de trabalho.
A regulação dos horários de trabalho e o respeito pelos tempos de descanso também deviam ser prioridades da administração do hospital e do Governo, motivos que levaram os enfermeiros à greve, em 17 de dezembro, “com 89% de adesão”, sendo que a paralisação “do Serviço de Urgência foi de 100%”, referiu o sindicato.
“Nenhumas das reivindicações elencadas pelos enfermeiros foram resolvidas, tanto pelo conselho de administração, como pelo Governo”, afirmou à Lusa um dirigente do SEP, Marco Aniceto.
O sindicalista admitiu que “as condições físicas” do hospital e do serviço de urgência não são as adequadas, mas se os doentes são admitidos são precisos “trabalhadores para lhes dar resposta e os rácios” atuais “são muito baixos”.
Os enfermeiros reunidos em plenário, em 10 de janeiro, decidiram “dar um tempo para o conselho de administração e o Governo tomarem medidas”, mas como nada evoluiu, o sindicato vai reunir-se “outra vez com os enfermeiros para demonstrarem o seu descontentamento face a esta realidade”, avançou Marco Aniceto.
O sindicalista salientou que, em 2024, os enfermeiros de Vila Franca de Xira fizeram “três greves em torno dos mesmos motivos” e, embora se recuse para já a adiantar se avançam para nova paralisação, frisou que “as formas de luta terão de ser continuadas enquanto as reivindicações dos trabalhadores” não forem satisfeitas.
Para Marco Aniceto, a falta de enfermeiros “é recorrente” no inverno, desde a pandemia de covid-19, e “a administração tinha o dever de dotar os serviços de meios suficientes para responder”, mas ano após ano cai-se “na mesma situação, o que torna ainda mais grave” esta denúncia.
O dirigente do SEP estimou que o Hospital de Vila Franca de Xira, que possui cerca de 500 enfermeiros, precise de mais 150 destes profissionais de saúde, dos quais 50 para o Serviço de Urgência.
“Os enfermeiros do Serviço de Urgência do Hospital de Vila Franca de Xira não desistem de lutar por melhores condições de trabalho que lhes permitam prestar os melhores cuidados de saúde aos utentes”, concluiu a nota do SEP.
A unidade foi inaugurada em março de 2013 para servir cerca de 250 mil habitantes dos concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira.
O Hospital de Vila Franca de Xira funcionou em regime de parceria público-privada, gerido pelo Grupo Mello Saúde, até 2021, altura em que transitou para o modelo de entidade pública empresarial.