Alteração ao seguro dos bombeiros fica “muito aquém”
O Governo atualizou ontem as condições mínimas do seguro de acidentes pessoais dos bombeiros profissionais e voluntários, alargando o direito aos elementos que integram os quadros de reserva e honra dos corpos de bombeiros.
A medida atualizou valores com dez anos, passando os casos de morte ou invalidez de 205 mil euros para 250 mil e os tratamentos com valores de 78 mil euros para 90 mil. Diário de Viseu contactou José Albuquerque, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Viseu, no sentido de auscultar a sua opinião sobre estas alterações introduzidas pelo Governo no início do ano.
O responsável afirmou que se trata “de uma melhoria por parte do Governo, não se pode negar, mas fica muito aquém daquilo que entendemos ser justo, daí não poder aplaudir esta medida”.
José Albuquerque entende que o seguro dos bombeiros “deveria ser um seguro que cobrisse tudo e todas as despesas que qualquer bombeiro faz, no caso de haver um acidente ou uma morte, não são ressarcidos como deveriam ser”, deixando logo a seguir um exemplo.
“Se um bombeiro voluntário tiver um acidente e esse bombeiro tiver fora dos bombeiros um ordenado à volta dos 1500/2000 euros, porque os há, se trabalhar numa empresa de prestígio do distrito, por exemplo, quando for para a atividade de voluntário acudir a um incêndio florestal e tiver um acidente qualquer, acontece que o seguro vai ficar aquém da cobertura que lhe daria o seguro da empresa para a qual trabalha profissionalmente. Ora isto é desajustado, o Governo deveria garantir, pelo menos, a equivalência à profissão que cada um tem. Ou então deveríamos colocar a tabela do voluntariado pelo valor máximo em vez de ser pelo mínimo dos mínimos”, enfatizou.
O presidente da federação falou igualmente na questão de a profissão de bombeiro não ser considerada ainda uma profissão de risco.
“O Governo deveria criar um seguro para os bombeiros que cobrisse todos os acidentes em relação à atividade que eles têm, porque é uma atividade de risco e assim sendo deveria ser coberta pelo máximo possível. Até porque depois temos situações como a seguinte: há alguns bancos que colocam alguns entraves quando um bombeiro pretende pedir um empréstimo bancário para a sua habitação, porque há sempre um “mas”, devido à sua profissão. Eles têm uma profissão que não é considerada de risco, mas têm o risco associado à sua profissão. São prejudicados e penalizados por isso”, asseverou.
José Albuquerque fez questão de salientar que este seguro tem a ver com os voluntários, “aqueles que deixam os seus empregos para irem fazer serviço de voluntariado”, e não com os bombeiros profissionais. “É preciso não confundir com os bombeiros profissionais, porque esses regem-se por um outro seguro, que é o seguro de funcionários, que qualquer pessoa é obrigada a ter quando está numa empresa”, explicou.
Liga dos Bombeiros saúda mas critica os valores
António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, saudou a portaria, porque “percebemos que o Governo está sensível para apoiar uma nova dinâmica dos bombeiros”. Todavia, considera que os valores previstos dos seguros de acidentes pessoais ainda é baixo e bastante baixo, tendo existido uma proposta inicial de 300 mil euros.
António Nunes criticou o facto de a portaria estar a “tratar por igual situações diferentes”, pagando o mesmo valor a bombeiros novos e velhos, sem ter em conta a esperança de vida de cada um. “Do ponto de vista indemnizatório, o seguro é cego", considerou, embora admitindo que essa discussão deva ser feita "no quadro do estatuto do bombeiro voluntário e não numa portaria isolada”.