Administradores avaliam positivamente expansão das ULS, mas apontam melhorias
Os administradores hospitalares avaliam positivamente a expansão das Unidades Locais de Saúde (ULS) a todo o país, mas apontam a necessidade de melhorias no financiamento e na articulação com os cuidados de saúde primários, um ano após a reforma.
O primeiro dia de 2024 ficou assinalado pelo alargamento das ULS a todo o país, totalizando 39, num modelo organizativo do Serviço Nacional de Saúde que integra hospitais e centros de saúde debaixo de uma única gestão, visando facilitar o acesso dos utentes e a sua circulação entre as instituições.
Num balanço do primeiro ano da medida à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, disse ser “positivo”, mas considerou que há aspetos a melhorar relacionados, por exemplo, com o financiamento das ULS, especialmente das de maior dimensão, e a articulação com os cuidados de saúde primários.
“Os cuidados de saúde primários, particularmente as USF [Unidades de Saúde Familiar], não reagiram bem a esta ideia de integração e esse é um processo que ainda não terminou”, afirmou.
Xavier Barreto explicou que os hospitais e os cuidados de saúde primários tinham “culturas muito diferentes” e, por isso, demora algum tempo a criar “uma só instituição, uma só cultura, uma só ideia de integração de cuidados”.
“Estas são as dificuldades que ainda vamos tendo, mas a verdade é que há muitas ULS a fazerem um trabalho muito interessante, no que respeita à articulação de cuidados” e à integração clínica.
No seu entender, o importante é colocar os médicos dos hospitais e dos centros de saúde a discutir em conjunto o melhor percurso para os doentes, o que está a ser feito em muitas ULS.
O presidente realçou, por outro lado, a resposta que está a ser dada ao doente agudo na urgência, através da articulação entre a Linha SNS24, os hospitais e os cuidados primários, que é facilitada pelo modelo das ULS.
“Esta articulação com a Linha SNS24 é, no fundo, a criação de uma urgência referenciada que andamos a discutir há muito tempo, que era difícil de fazer, mas que está a avançar” para “colocar cada doente no local mais correto”.
Perante esta realidade, Xavier Barreto reiterou que “o balanço é positivo, mas ainda não é um dado adquirido”.
“Estes avanços que temos tido vão continuar a precisar de um empenho importante por parte das ULS, do Governo, da Direção Executiva, para que esta cultura se sedimente, fique mais forte e se possa construir uma instituição una e integrada”, salientou.
Isto porque “não é fácil integrar instituições que viveram toda a vida separadas, muitas vezes, até de costas voltadas em muitos momentos e de repente juntá-las com tudo o que isso implica em termos de alterações de cultura”, disse, confiante de que “vai correr bem”.
Questionado sobre as recentes exonerações das administrações das ULS da Lezíria, de Leiria e do Alto Alentejo, Xavier Barreto expressou a esperança de que essas mudanças não venham a dificultar o trabalho em curso.
Salientou que, se as novas nomeações forem feitas com base em critérios de experiência, formação e competência comprovada, e os escolhidos tiverem uma “visão muito alargada” do que deve ser a integração de cuidados, que deve envolver também municípios, farmácias, associações de doentes, o desenvolvimento das ULS não será prejudicado.
Sobre o que ainda falta fazer, Xavier Barreto apontou a necessidade dos regulamentos internos das ULS serem aprovados, o que espera que aconteça no início de 2025.
“Espero que muito em breve possam ser aprovados porque são um instrumento também estruturante do funcionamento das ULS”, uma vez que definem “quem é que faz o quê, quem é que reporta a quem” e qual é a responsabilidade da cada um.
Segundo Xavier Barreto, esta ausência do regulamento interno tem sido possível de ultrapassar com “dedicação e com empenho” dos conselhos de administração.