Mário Soares condecorado com o Grande Colar da Ordem de Camões
Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a entrega desta insígnia no final da sessão evocativa dos 100 anos do nascimento de Mário Soares, fundador e primeiro líder do PS, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
No seu discurso, que encerrou a sessão, o chefe de Estado considerou que o centenário do nascimento de Mário Soares “é um grande momento democrático” que “contribui para a “unidade dos portugueses”.
Tendo a ouvi-lo o antigo Presidente da República Cavaco Silva e o anterior primeiro-ministro e atual presidente do Conselho Europeu, António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o centenário de Mário Soares “não invoca apenas um grande português, não invoca apenas um grande político, um grande lutador, um grande visionário do futuro, um grande construtor do futuro, cria condições únicas para unir os portugueses e unir Portugal”.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “a grande força” de Mário Soares era ser “um homem apaixonado pelas suas causas”.
“Mário Soares viveu com paixão a luta contra a ditadura, viveu com paixão a revolução, o início da democracia, as derrotas e as vitórias da democracia, sempre pronto para começar, nos momentos mais improváveis, nas idades mais improváveis, nas circunstâncias mais improváveis”, disse.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se ainda à atual conjuntura internacional, admitindo que se possa estar perante “uma viragem de ciclo”, com “novas lideranças e novas narrativas que ultrapassam as democracias representativas, que eliminam as instituições intermédias, que aproveitam as fragilidades dos sistemas políticos, económicos e sociais, que existem e que oferecem o paraíso, que não é um paraíso democrático”.
“Podem chamar-se democracia iliberal, não são democracias. Não é uma ficção. Esta é a nossa realidade do dia-a-dia. É o nosso desafio hoje e que nos dá para pensar como é que Mário Soares agiria perante esse desafio”, apontou o Presidente da República, salientando, depois, o seu aviso.
“A democracia e a liberdade não estão adquiridas. A Europa nunca está adquirida. Os desafios são cada vez mais difíceis, exigentes e perigosos. Estamos menos atentos, menos prevenidos, mais arrogantes, se se quiser, no convencimento do que está adquirido e não está adquirido. Este centenário de Mário Soares vale também por isso”, acrescentou.
Antes de Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, referiu que Mário Soares lhe manifestou uma vez dúvidas sobre se o seu país deveria ter sido independente e se não teria sido preferível integrar-se como região ultraperiférica da União Europeia.
“Mais tarde, em 2010, Mário Soares disse-me que tinha reconsiderado essa sua posição e que Cabo Verde merecia ser um país independente”, contou José Maria Neves, lembrando, depois, que em 19 de dezembro próximo se assinalam os 50 anos da assinatura do acordo com Portugal para a independência de Cabo Verde.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, enviou uma mensagem à sessão em que contou que começou a colaborar com Mário Soares logo após a revolução de 25 de Abril de 1974.
“Mário Soares nunca deixou de acreditar no triunfo da liberdade e da democracia. Ensinou a minha geração que a política serve para unir e não para dividir as pessoas”, declarou o antigo primeiro-ministro de Portugal.
Também o líder histórico dos socialistas espanhóis, Felipe Gonzalez, enviou uma mensagem, na qual destacou o antigo Presidente da República e fundador do PS “como um anticolonialista” que combateu “ditaduras de sinais opostos”.
A escritora e ex-jornalista Catarina Gomes, assim como a atriz Beatriz Batarda, fizeram breves discursos, nos quais agradeceram a Mário Soares a liberdade que hoje possuem enquanto mulheres.
“O mundo continua a precisar desesperadamente de homens como Mário Soares. É pena serem raros”, disse Catarina Gomes, enquanto a cientista Maria Manuel Mota destacou o antigo primeiro-ministro socialista pela sua ação no sentido de internacionalizar e dar mais oportunidades aos portugueses.
Deixou também um aviso: “As elites que vivem para si arriscam-se a perder legitimidade”, disse.