Advogado de assistente no julgamento do homicídio no centro Ismaili admite pedir pena máxima
O advogado de uma das assistentes do processo que julga o homem que matou duas mulheres no Centro Ismaili, em Lisboa, afirmou hoje que irá pedir a pena máxima caso se comprove que o arguido não é inimputável.
Em declarações aos jornalistas no final da primeira parte da sessão de julgamento, que decorreu hoje de manhã, Miguel Matias apontou que se trata de um processo complicado do ponto de vista humano e pela dificuldade em aferir os motivos pelos quais o arguido matou duas pessoas e feriu outras seis no dia 28 de março de 2023.
Para o advogado, Abdul Bashir “tem plena consciência do que fez, embora não esteja arrependido porque arranja sempre outros argumentos” e disse que irá confrontar os peritos para confirmar a declaração de inimputabilidade, pedida pelo Ministério Público.
“Se se vier a verificar a prova, se este indivíduo não for declarado inimputável, atendendo aos crimes que estão em causa, naturalmente que a pena de 25 anos de cadeia será correta”, afirmou Miguel Matias, acrescentando que acredita que será também essa a intenção do Ministério Público.
A primeira parte da primeira sessão de julgamento, que decorreu durante a manhã, ficou marcada por uma paragem de cerca de 10 minutos depois de o tradutor ter ficado visivelmente emocionado quando o arguido começou a descrever o momento do esfaqueamento, já que conhecia as vítimas e à data dos factos trabalhava no Centro Ismaili.
Durante a sessão, Abdul Bashir, que segundo o Ministério Público sofre de doença mental, disse ter esfaqueado as duas mulheres, com quem estava no interior de um gabinete, depois de uma delas o ter esfaqueado primeiro.
Nessa altura, contou, agarrou na faca que transportava com intenção de se defender e porque sentiu a sua vida em perigo.
Relatou que desde janeiro de 2023 começou a transportar consigo uma faca de cozinha porque sentia que a sua vida e a da família estavam em perigo, acrescentando, no entanto, que já desde 2021 seria alvo de ameaças de morte.
Na explicação do arguido, havia uma conspiração montada pela família Aga Khan para o matar e as duas mulheres faziam igualmente parte desse plano, bem como o presidente do conselho do Centro Ismaili e o representante político da família Aga Khan.
Depois de relatar todo o percurso que fez desde que saiu do seu país natal, o Afeganistão, e chegou a Portugal, o arguido contou que a sua relação com o Centro Ismaili tinha a ver com o facto de esta instituição estar a acompanhar o seu processo ao abrigo da recolocação de refugiados.
Disse que a pessoa com quem tinha mais contacto era a assistente social, Mariana, uma das vítimas mortais, e admitiu que tanto com ela como com a outra vítima, Farana, trocou “mensagens amorosas”, negando que alguma vez esta última lhe tenha pedido para parar.
O arguido contou que também trocou mensagens com a “princesa Aga Khan” e que quando a família Aga Khan descobriu começou a ameaçá-lo, razão pela qual passou a andar sempre com uma faca de cozinha consigo, que transportava numa mochila.
Referiu que tanto Mariana como Farana o incomodavam muito e falavam com ele “muito agressivamente”, e que essa agressividade o levou a acreditar que tinham uma arma e que iriam atacá-lo.
Reafirmou por várias vezes que havia um plano para o matar, motivado também pelo facto de a família Aga Khan ter descoberto que os filhos do arguido “não eram muçulmanos verdadeiros”.
Disse também que queriam matá-lo para lhe tirar os órgãos e afirmou que no hospital lhe retiraram um rim e um testículo.
Contou ainda que no dia do crime, depois de ter esfaqueado as duas mulheres, saiu do gabinete e esfaqueou “duas ou três vezes” Diogo, o professor de português, quando este tentou sair da sala onde estava a dar aulas.
De acordo com Abdul Bashir, também o professor o havia anteriormente ameaçado “várias vezes”, tendo dito “mais ou menos 20 dias antes do crime” que ia comprar uma pistola e que o iria matar.
Disse ainda que era sua intenção ser baleado e morto pela polícia.