Kiev pode usar mísseis de longo alcance
Tal decisão constitui uma importante alteração à política dos Estados Unidos e ocorre no momento em que Biden está prestes a deixar a Casa Branca e o Presidente eleito, Donald Trump, prometeu reduzir o apoio norte-americano à Ucrânia e acabar com a guerra o mais rapidamente possível.
Os mísseis de longo alcance serão provavelmente usados em resposta à decisão da Coreia do Norte de enviar milhares de militares para a Rússia, para apoiar a continuação da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022 pelo Presidente russo, Vladimir Putin, segundo as fontes da AP, que falaram a coberto do anonimato.
A informação foi avançada também pelo The New York Times e AFP, citando responsáveis norte-americanos que pediram anonimato.
Putin afirmou a 25 de setembro, numa reunião do Conselho de Segurança da Rússia, que as propostas para “clarificar” a doutrina sobre o uso de armas nucleares incluem considerar como agressor da Rússia qualquer potência nuclear que apoie um ataque de um país terceiro.
“Foi proposto considerar a agressão à Rússia por um país não-nuclear, mas com a participação ou apoio de um país nuclear, como um ataque conjunto contra a Federação Russa”, declarou o chefe de Estado russo, numa clara referência à Ucrânia, que tinha pedido autorização aos Estados Unidos e a outros países ocidentais para usar mísseis fornecidos por estes em ataques ao território russo.
A ofensiva russa em larga escala contra a Ucrânia iniciou-se em fevereiro de 2022 e os países ocidentais têm apoiado militarmente Kiev na sua defesa.
Durante a reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin não especificou se a Rússia poderia responder a um ataque nos termos descritos.
A atual doutrina prevê que Moscovo use o seu arsenal nuclear “em resposta ao uso de armas nucleares e outros tipos de armas de destruição em massa contra si e/ou seus aliados, bem como em caso de agressão contra a Federação Russa com o uso de armas convencionais, quando a própria existência do Estado está em perigo”.
Citada pela AP, a versão revista do documento prevê mais pormenorizadamente as condições do uso de armas nucleares, como em caso de um forte ataque aéreo envolvendo aviões, mísseis de cruzeiro ou 'drones' (aeronaves não-tripuladas).
A 12 de setembro, Putin tinha advertido de que uma autorização dos países ocidentais à Ucrânia para ataques com mísseis de longo alcance contra território russo significaria que “os países da NATO estão em guerra com a Rússia”.
“Se esta decisão [de uso de mísseis de longo alcance ocidentais] for tomada, significará nada menos do que o envolvimento direto dos países da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, bloco de defesa ocidental) na guerra na Ucrânia”, avisou Putin.
“Isso mudaria a própria natureza do conflito. Significaria que os países da NATO estão em guerra com a Rússia”, acrescentou Putin num vídeo publicado na plataforma digital Telegram.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
No terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
As tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguem o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.