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'Se querem conhecer a essência do Douro é vir à Vindouro e a S. João da Pesqueira'

Agosto 30, 2024 . 11:54

'Se querem conhecer a essência do Douro é vir à Vindouro e a S. João da Pesqueira'

Manuel Cordeio, presidente do Município de São João da Pesqueira, realça a presença dos produtores de todas as regiões vitivinícolas do país.

Em entrevista ao Diário de Viseu, o presidente do Município de São João da Pesqueira, Manuel Cordeio, destacou a presença de produtores de todas as regiões vitivinícolas do país, num certame que "tem vindo a crescer" e que já conta com 22 edições.

Contam-se 22 edições da Vindouro. Quais são as expectativas para este ano?

Espera-se uma boa edição. Essa é uma pergunta sempre difícil de responder porque nós temos um espaço aberto. Nós não temos entradas pagas e, portanto, nós não contabilizamos o número de pessoas que entram. Temos sim um número de cabeça que passarão pelo espaço. Serão cerca de 15 mil pessoas ao longo dos três dias. Mas isto vale o que vale.

Quantos produtores vão estar presentes no recinto?

Nós temos uma tenda para albergar 100 produtores. Teremos à volta de 92 produtores na tenda de vinhos porque uma das novidades deste ano é que convidámos um produtor de cada região vitivinícola, que são mais 13. Vão estar no mesmo espaço, mas com lugar próprio para representar cada uma das regiões vinícolas do país. Obviamente que o foco principal é o vinho, depois temos toda uma outra série de expositores que estão com atividades económicas relacionadas com a vinha e o vinho. E depois também outros expositores no mercado pombalino, com produtos da terra e tudo mais. Estarão cerca de 30 expositores, além da tenda de vinhos. Esta edição tem Defins, Matias Damásio e Putzgrilla como cabeças de cartaz.

O que é que destaca da programação?

Obviamente que a animação também faz parte. Temos uma noite branca, dedicada também aos mais jovens, e isso também é importante, ainda que o foco principal, como disse, seja os vinhos e aquela parte toda do glamour que é a animação pombalina, o jantar pombalino, o desfile pombalino e o leilão de vinhos do Porto. Este ano, o concurso de vinhos tem a particularidade de, para além de distinguir-nos com as medalhas de ouro, prata e bronze, os melhores vinhos fortificados, brancos e tintos, vamos distingui-los também com uma medalha verdadeira. E a novidade deste ano é, de facto, termos convidado essas 13 regiões vitivinícolas para também partilharem connosco a sua experiência e os seus vinhos. É a primeira vez que vamos ter outras regiões.

Como é que surgiu a ideia de incluir todas as regiões vitivinícolas do país no certame?

Claro que o nosso foco é a promoção dos vinhos do Douro. E isso nós continuamos a fazê-lo, mas acho que nós não vivemos sozinhos. Abrir portas da Vindouro a outras regiões é permitir, por um lado, que venham aqui mostrar-se também, ainda que cada stand represente uma região. E depois também essas regiões conseguirem conhecerem a nossa região. Acho que só temos a ganhar com este intercâmbio. Há muito que a Vindouro é conhecida pela tradicional festa Pombalina e o cortejo pela sua diferenciação face a outros eventos.

Qual é a importância de manter esta tradição?

A importância é toda. Já estamos a completar a 22.ª edição. A Vindouro marca essa diferença de outras feiras, evidentemente, cada uma com o seu valor. Mas tem esta diferença de ser, por um lado, a maior feira da região com mais produtores de vinho do Douro e, por outro, esta marca diferenciadora que a alusão ao Marquês de Pombal. Tem todo o interesse e toda a lógica, porque, como toda a gente sabe, o Marquês de Pombal foi grande responsável pela demarcação e regulamentação desta região. Hoje, por todas as situações que vivemos, faz cada vez mais sentido. A região carece absolutamente de ser revista, ser repensada e muito do que se passava na altura do Marquês de Pombal, com falta de legislação que hoje também existe, mas que é totalmente permissiva. Isto permite que a região venha a decair, pelo menos no que respeita à questão dos produtores. Este ano, como sabemos, vivemos um momento muito difícil, porque os produtores estão a ver sua produção mais reduzida, ainda por cima não tendo sequer onde colocar as uvas. O Governo tem de colocar a mão na região. E, portanto, a alusão ao Marquês de Pombal já fazia sentido naquela componente histórica e também de beleza, mas este ano também tem esse cariz.

Como é que os produtores de São João da Pesqueira estão a ver a questão dos excedentes do vinho?

A situação é muito má. A região em si, olhada de fora, não vai mal. Em termos de exportações portuguesas de vinhos representa quase 50% do valor total das exportações portuguesas. Portanto, é uma região com muito peso, que diz muito ao país e que significa muito no mundo dos vinhos. Agora há outra parte da equação que é do setor da produção e essa vai muito mal mesmo. Refiro-me, evidentemente, a pequenos e médios viticultores que estão, há dez anos, a receber cada vez menos pelo quilo de uva que vendem e com custos de produção que triplicaram. Este ano, chegamos ao absurdo de haver viticultores que não sabem onde vão meter as uvas e têm que uma família e que têm de pôr comida na mesa. Claro que os nossos produtores estão desesperados, portanto, é hora de facto de se agir e do Governo meter a mão nisto. É verdade que se está a trabalhar nisso. É verdade que nós, autarcas, também estamos junto do Governo e já se fez alguma coisa. O Governo chegou agora é verdade que saiu uma portaria que regulamenta aquela lei que foi aprovada para a restauração da Casa do Douro. São pequenos passos, mas é preciso fazer muito mais. Não pelos pequenos, mas também pelos médios porque são aqueles que vivem exatamente da vinha. Se calhar os médios são aqueles que preocupam mais. Não há aqui uma justa repartição. É verdade que quem compra, compra se quiser. A repartição das receitas que a região gera, que são muitas, não é refletido naqueles que são os mais fracos, que é produção.

A região tem conseguido atrair novos produtores?

Acho que sim. Estou a exagerar, mas vemos frequentemente em jornais estrangeiros, por exemplo, empresários que compram quintas no Douro e que apostam na região porque o Douro tem história, tem qualidade, tem marca no mundo. Se há interessados em apostar no Douro, é sinal de que o Douro tem tudo para ser uma atividade lucrativa. E é. Agora, a repartição dessas receitas não está a ser justa, nem equilibrada. O programa conta com várias iniciativas a acontecer durante os três dias dedicadas ao vinho, algumas até com uma perspetiva mais técnica e para profissionais da área.

A importância destas atividades é também discutir os desafios e futuro da região do Douro?

Claro. É absolutamente incontornável que nas Conversas com Vinho não venha a conversa da questão é que o Douro vive atualmente e como é que isso se pode ultrapassar. Este ano, incluímos na sexta-feira, uma uma atividade exclusivamente para experts na matéria. O contacto entre os produtores pode ajudar, podem fazer-se contactos, podem fazer conhecimentos, podem maximizar mais a sua, a sua atividade. Depois a parte das Conversas com Vinho, acho que tem todo o interesse, que é para aqueles que são apreciadores e que apenas gostam de vinhos e aprender um bocadinho mais sobre a matéria. É também para chamar à atenção, mais uma vez, para a crise que se vive atualmente no Douro. O desporto tem vindo a ser uma aposta para a programação, com vários torneios e iniciativas desportivas. Queremos sempre maximizar o programa e vemos por parte de associações culturais e desportivas, não só do concelho, mas de fora também, uma vontade em associarem-se à Vindouro, percebendo que, modéstia à parte, o impacto que a Vindouro vem tendo fora de portas. Este ano vamos ter um torneio de natação em águas abertas de uma associação nacional que quer fazer aqui a atividade. Não se lembraram da Pesqueira por motivo nenhum que não fosse, julgo eu, a visibilidade que a Vindouro tem tido. É uma forma de trazer pessoas que também não ainda não conhecem.

Que balanço é que faz do crescimento da Vindouro?

Honra seja feita àqueles que, no passado, entenderam que devíamos fazer uma festa do vinho, até porque o concelho vive exclusivamente disso. A verdade é que sempre se fez de forma ininterrupta e tem todo o valor por isso. Foi, na verdade, na altura em que assumimos a câmara, em 2017, que se deu o maior salto. Era uma Vindouro mais pequena, com menos produtores num outro espaço. Quisemos dar o salto e apostar a sério e fazer desta a nossa principal festa. Em 2018, a Vindouro começou a crescer cada vez mais. Mas é também, e é verdade, a questão de ser uma feira que é visitada todos os anos pelo Presidente da República, o que também lhe dá alguma visibilidade. O balanço é muito positivo.

O Presidente da República inaugurar a feira é também já uma tradição?

Sim, tem sido. Dos cinco anos que passaram, só um ano é que não aconteceu por uma impossibilidade da agenda do presidente. Mas tem sido sempre e este ano volta a acontecer. Nós também devemos algum carinho e algum respeito porque, na verdade, já é ele, em jeito de brincadeira, a dizer que quer vir a Vindouro. Já há bastante tempo que o presidente me telefona a perguntar quando é que é a Vindouro. É sinal que gosta e quer ajudar porque, na verdade, estamos a falar do interior com poucas oportunidades e o Presidente da República, com certeza, que não é aqui que vem buscar votos. Ele tem esse gosto e nós muito agradecemos por isso.

Se tivesse que resumir a Vindouro em poucas palavras para convencer alguém a visitar a feira, o que diria?

Diria se calhar que se querem conhecer o Douro e a verdadeira essência do Douro, é vir à Vindouro e a São João da Pesqueira porque , para além de estarmos no coração do Douro, quer geograficamente, quer em termos de produção do vinho do Porto, conseguimos aqui resumir quase tudo, que é aquilo que se faz na região e o glamour que toda a festa tem. Não é uma oportunidade perdida vir ao concelho de São João da Pesqueira.

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